O futebol não tem fórmulas infalíveis. Está totalmente afastada a ideia que uma equipa ganhe ou perca por causa do seu sistema táctico. Como pode ele ser tão importante se, ao longo dos tempos, já ganharam campeonatos sistemas tão diferentes, antagónicos mesmo?
O segredo está sempre na sua sábia utilização. Não o colocar à frente dos jogadores mas também não deixar que ele fique dependente dos jogadores. As duas ideias desta última frase parecem impossíveis de conciliar. Antigamente, a astúcia de um treinador estava sobretudo em encontrar o seu onze e base e mantê-lo. Hoje, maior astúcia estará naquela que muda mais e o rendimento da equipa permanece. Ambas as opiniões são verdadeiras. O Benfica e os passos de Jesus na Luz esta época (construção e manutenção da equipa) são uma prova disso. Nos diferentes sentidos.
Ao longo da época, solidificou um onze base muito forte, automatizado sem perder criatividade. Quando, porém, as peças-chave desse onze base faltaram, Jesus hesitou no seu atelier táctico.
A primeira posição em que percebeu que teria de mexer mais durante a época era a de médio-centro ofensivo. A maior sensibilidade física obrigava a essa gestão mais delicada. Sobretudo porque o seu futebol (isto é, a qualidade dos seus movimentos naquele espaço entre-linhas à entrada da área adversária) é fundamental para a construção atacante da equipa de trás para a frente.
A outra posição com maior dificuldade de “transplante táctico” conecta directamente com o habitat de Aimar. É o lugar do chamado segundo avançado. O espaço de Saviola. Mais do que jogar ao lado do ponta-de-lança fixo, Cardozo, ele avança e recua nesse espaço frontal, ora conectando com Aimar (nos recuos), ora conectando com Cardozo (nos avanços). Com as asas solidificadas, Di Maria, à esquerda, voando no um-para-um (drible e arranque) e Ramires, à direita, equilibrando as perdas de bolas, a máquina com a âncora Javi Garcia imperturbável atrás, quase parecia andar sozinha.
Em geral, quando falta um titular, o treinador tende a procurar o jogador com as características mais semelhantes, capaz de reproduzir os mesmos movimentos. Aimar e Saviola não são, no entanto, jogadores susceptíveis de ser facilmente “clonados”.
Sem Aimar, depois de provada a pouca extensão competitiva de Felipe Menezes, foi Carlos Martins quem se fixou como o substituto natural.
Está muito longe de ter o mesmo cérebro criativo, mas, em muitos jogos, o processo colectivo da equipa conseguiu absorver essa falta do seu construtor natural. Sem Saviola, o problema é maior. A tentação de fazer adiantar Aimar, mais do que resolver um problema, criava outro, pois mexia em duas posições. Para além de perder a conexão vinda da dupla atacante, também perdia a que vinha do meio-campo. Até que chegou o jogo com o Sporting e faltavam os dois (Aimar e Saviola).
Do ponto de vista de inter-ligação com os outros jogadores, os movimentos de Saviola são muito mais exigentes. Se para ilustrar o bom futebol benfiquista desta época tivesse-mos de fazer zoom sobre apenas um jogador, ele seria sobre Saviola. Uma ausência que nem em mil jogos Eder Luis conseguiria disfarçar.
Sem descobrir uma saída táctica para lá dos seus protagonistas ausentes, a salvação surgiu quando os “arames” de Aimar aguentaram, pelo menos, meio jogo contra o Sporting. O suficiente para devolver a equipa à vida, resgatando os processos que fazem a diferença, num jogo em que, com a defesa do Sporting subida, ele até pode jogar de trás para a frente, quase como se estivesse a 10.
Não há nada melhor que um bom jogador para resolver um jogo. Permanece o sistema, muda-se apenas uma “peça” (jogador) e tudo parece diferente. Afinal, o futebol tem mesmo fórmulas infalíveis. Esta ideia tem a assinatura de Pablo Aimar.





