A Evolução prossegue dentro de momentos

30 de Outubro de 2020




O Uruguai é um pequeno país da América do Sul com uma população de cerca de 3,5 milhões. Do mesmo modo é um rico e pulsante viveiro futebolístico, exportando talentos amiúde. Terra de gente apaixonada pelo belo jogo, a sua Seleção Nacional é o expoente máximo desse sentir o futebol tão característico. Quando a Celeste joga tudo pode acontecer.

Há uma crença incutida naqueles jogadores quase desde o berço que se reflete na forma destemida e aguerrida com que atuam. Nunca se dão por vencidos e disputam cada jogo como se da sua própria vida se tratasse.

Esta dedicação uruguaia com o seu poderoso coletivo e um espírito de comunhão a toda a prova numa tónica de antes quebrar que torcer tem levado a Seleção a alcançar grandes feitos ao longo da sua história. A afamada garra charrua transporta para o relvado a história e a alma de um povo que ali se manifesta.

Neste longo e inusitado defeso que galgou o nosso verão chegou a Portugal e ao SL Benfica mais um talento uruguaio de seu nome Darwin Núñez. Com apenas 21 anos e oriundo do Almería veio catalogado como uma grande promessa. O preço da transação, 24 milhões de euros, causou espanto. É uma quantia avultada para as bolsas dos clubes portugueses. Contudo, preço e valor são dois parâmetros completamente distintos. Darwin ainda não tinha dado um pontapé na bola com a nova camisola e já fizera correr tanta tinta e alimentado tantas conversas e debates… Sobre ele pairava a sombra de Cavani, mediático compatriota que protagonizou a grande novela do último mercado de transferências.

Dawin entrou na equipa de Jorge Jesus. Camisola 9, chegava para ser a principal referência ofensiva das águias. Os golos não surgiram imediatamente. Afinal, ainda se está a adaptar. Porém, quando o talento está lá, o chamado período de adaptação é apenas um expediente dilatório para justificar qualquer imprevisto.

Notou-se desde logo que este jovem é especial. Pelo toque de bola, pela forma como se dá ao jogo saindo muitas vezes de posição para ir ao seu encontro, pelas suas movimentações tendo em vista abrir espaços para os colegas ou explorar a profundidade nas costas das defesas contrárias. Darwin joga bem. As suas primeiras contribuições mais notórias vieram em forma de assistências para golo. Sendo um ponta de lança, naturalmente precisa de golos para aumentar os níveis de confiança e os primeiros (validados) chegaram em dose tripla em jogo europeu em Poznan, na Polónia. Execuções de grande qualidade que o libertaram. Desde então vê-se um jogador mais solto, cada vez mais entrosado e com um potencial tremendo que deixa água na boca não apenas aos adeptos benfiquistas mas a todos os adeptos do bom futebol.

Irrequieto, sempre em busca de espaço para desequilibrar e com um sentido de oportunidade bem vincado, Darwin é certamente uma das principais atrações que o campeonato português tem para oferecer neste exercício de 2020/2021. O seu jeito abnegado de estar em campo condiz com a mentalidade futebolística uruguaia que não deixa ninguém indiferente.

Existe um potencial tremendo para explorar. Deixemo-nos de conversas vãs sobre o preço da sua contratação e desfrutemos do valor que é inegável e que já vai demonstrando. Não é tempo para fazer contas nem para sonhar com lucros hipotéticos. Viver o presente, sorvê-lo e aproveitá-lo em pleno é um desafio difícil. Na vida e no futebol.

A bola vai continuar a rolar e a Evolução prossegue dentro de momentos.

 

Adolfo Serrão - Cronista Recepção Orientada

 

Créditos fotográficos: Jakub Kaczmarczyk / Getty