Alemanha: O “jogo de sombras”  

04 de Julho de 2016




No maior “choque de monstros”, os espaços foram tratados com mais respeito do que a bola na perspectiva de como cada equipa entrou a pensar em como condicionar a outra.

Um dos factores que melhor revela essa tendência está em que quando se começa a pensar nas marcações, já não se pensa nos defesas a marcar os avançados mais perigosos, mas sim em cada equipa a marcar o inicio de construção adversária. Ou seja, na prática, de um avançado a marcar um pivot adversário que quer sair a elaborar/pensar o jogo.

Foi assim que se viu Eder (ou Pelé) a encostar em Kross para não deixar sair o pivot-alemão a construir jogo, e, do outro lado, como os alemães fechavam espaços para o triângulo do meio-campo italiano, que teve Parolo a nº6, pudesse pegar na bola com espaço para sair.

Desta forma, a Alemanha mudou o sistema, regressou à “defesa a 3”, com três centrais (Howedes-Boateng-Hummels) e com os avançados abertos (num 3x4x2x1 que colocava no “2x1” Muller-Ozil em mobilidade atrás de Gomez) lançou um plano de marcações individuais por todo o campo que nunca deixou a Itália do “frasco de veneno atado à cintura” meter um contra-ataque perigoso como fizera nos últimos jogos de forma mortífera.

Tirando um criativo de diagonais velozes, Draxler, alterou o sistema e mandou na “sala de máquinas” do meio-campo. Nunca perdeu o controlo do jogo e matou a profundidade italiana, não deixando entrar os seus passes longos nas costas. Apesar do trabalho incansável de Pellé de costas para a baliza para dar em apoios, não chegava nunca ninguém lançado desde trás com espaço livre.

A capacidade desta Alemanha jogar/construir apoiado, fazendo a bola passar por todos os jogadores (inclusive o guarda-redes Neuer com os pés) estende-se num campo que, mal recuperam a bola, tornam subitamente... grande.

Isto, as suas linhas alargam-se e estendem-se mantendo a ligação pela precisão do passe que “ganha metros” ou dá largura-profundidade pelos flancos. A introdução nesta ideia de um nº9 clássico, Gomez, deu-lhe maior peso a segurar a bola e arrastar marcações nos últimos 30 metros.

Só ganhou o jogo nos penaltys, mas antes já o tinha ganho no plano táctico e de desenvolvimento da técnica.

Correr mais, jogar menos

Sem a âncora” De Rossi como pivot no triângulo do meio-campo, a Itália perdeu o ponto de referência de equilíbrio. Tentou juntar Sturaro mais perto e Parolo (o 6 improvisado), para tentar iniciar a construção “a dois”, mas as referências individuais de marcação dos alemães nunca lhe deram espaço para pensar com a bola.

Conte não tinha muito por onde mexer no posicionamento/dinâmica do meio-campo. Giaccherini foi assim a “seta” que tentou sair sem bola esperando dar (ou encontrar) a profundidade, mas tirando uma bola longa de Bonucci, limitou-se a ser o jogador italiano que... correu mais. Foram quilómetros percorridos em busca do jogo. Quase sempre encontrava a bola e procurava-a a segurar mas sem ter, depois, com quem criar “triângulos de apoio” para progredir ou reagir logo numa tentativa de recuperação alta.

O plano italiano não tinha mais nenhuma forma de fugir à “teia táctica de Low”. A defesa tentou sempre manter um posicionamento alto, mas sem definir uma xona de pressão intensa à sua frente, teve que baixar com o decorrer do jogo. Há jogos em que por mais veneno que se tenha preparado, a outa equipa não lhe vai tocar de forma alguma. Esta Alemanha sabe todos esses segredos do ancestral futebol italiano.