Naquela bola que Walter Gonzalez levou rompendo pelo meio-campo cheio de gregos até à zona de remate na área, levava com ele atrás quase uma década de história do Arouca. Dos distritais á porta da Europa. Talvez o maior “milagre futebolístico humano” feito na história do futebol português.
O guarda-redes Kapino do Olympiakos parece que cresceu de tamanho e defendeu, com a bota, aquele remate do paraguaio emigrado numa serra lusa, mas o “desafio ao impossível” que aquele clube faz todas as épocas estava lá. Durante o jogo também esteve o “martelo táctico” de Lito Vidigal, que se não estivesse ter de estar no banco de pé por ser dia de jogo, devia ainda estar naquela hora a treinar e treinar ainda mais até a noite cair.
Será muito difícil o Arouca virar o jogo na Grécia, mas no seu percurso pode-se ver o que podem (e devem) fazer os clubes desta dimensão no nosso futebol. Cada qual, é verdade, tem as suas idiossincrasias de investimento (este é uma invenção familiar abastada) mas, depois disso, tem que ver com noção de gestão de política desportiva que é a chave.
A prova está que ao mesmo tempo outros projetos (clubes) até maiores não conseguem descolar e levam até históricos do nosso futebol a penar nas caves do campeonato ou até descer. O nosso futebol necessitava de voltar a sentir a cultura de clube, saber criá-la ou reinventá-la. Á sua medida, o Arouca fez isso. Paços de Ferreira e Rio Ave também o estão a fazer, de pontos de partida diferentes.
Custa mais é ver, depois da descida da Académica, a apatia do V. Setúbal, as guerras internas do Belenenses e as duvidas que o V. Guimarães (onde os adeptos o abraçam com tanta força que quase o sufocam) sempre transmite. Os clubes da Madeira são
uma realidade diferente, mas financeira/competitivamente perderam o fulgor de anos atrás. Esta devia ser a segunda linha mais forte do futebol português mas, na verdade competitiva em campo (espelho da gestão), são os “milagres” de Arouca, Rio Ave ou Paços que aparecem numa dimensão superior. Algo está errado nesta história
Quase numa “ilha” no quarto lugar que ele próprio criou, o Braga procura sempre chegar mais alto. Criou uma realidade só sua no nosso futebol.
Os resultados, depois, podem alterar algumas destas coordenadas na classificação, mas em termos de percepção global dos clubes é isto que se sente. Existem, claro, ainda outras realidades. Emergentes ou artificiais.
No fim deste olhar, fica o regresso ao principio do texto. Aquela bola do Walter Gonzalez merecia ter entrado. Tinha toda a lógica na “realidade inventada” pelo Arouca e todos que o rodeiam.