Os grandes jogadores não precisam correr muito. Ou melhor, até podem precisar, mas de forma correta. Penso nisso enquanto vejo e comento o At. Madrid-Bayern Munique e vejo que, na tentativa de renascimento, Ribery não parava de correr um segundo. Sempre em movimento desde a esquerda (no 4x3x3 de Ancelotti) procurando zonas centrais, voltando depois para ala, ora recuando, ora avançando, e até, por vezes, aparecendo quase do outro lado, no outro flanco.
Como tem grande qualidade técnica, quando entrava nas jogadas, executava quase sempre bem e punha em sobressalto a defesa “militarizada” do At. Madrid. Quase sempre, porém, todas eram no meio de muitos jogadores, marcações apertadas, ressaltos, tabelas “à queima” e não resultava. Inclemente, o “exército de Simeone” atirava sempre a bola para longe.
Continuando a ver esta insistência de Ribery acaba por se perceber o que acontece. É simples. Em vez de procurar os melhores locais, espaços, para receber a bola e criar a partir daí perigo, procura sempre a bola e corre sempre para perto do local onde ela está, mesmo que seja em espaços onde a zona de pressão está no auge. É essa a diferença.
Em vez de correr atrás da bola, Ribery não deve parar de correr é atrás (em busca) dos melhores espaços para a receber. E, depois, ficar neles, pedindo-a, porque quando a equipa o vê, está desenhada uma boa linha de passe que, então sim, pode desequilibrar o adversário.
Ribery é, sem dúvida, um grande jogador, mas ao ter como principio das movimentações a bola e não os espaços, inverte a lógica da qualidade de jogo. Devia ser em função dos espaços. Ele move-se em função da bola. Mal a vê não resiste a ir ter com ela. Mesmo quando a bola (jogada) nem precisa dele.
Onde se coloca esforço e velocidade permanente, devia colocar-se inteligência e temporização de movimentos. Ribery é o caso do craque que precisa de correr menos para jogar... mais rápido. Nos espaços. E, depois, com a bola. A ordem não é arbitrária.
Um dos melhores jogadores no atual futebol europeu a correr com a bola é o belga Carrasco. No At. Madrid nota-se mais porque aquele modelo de jogo que parte de linhas estrategicamente baixas (fazendo recuar os extremos para ficar de perfil com o duplo-pivot), faz com que muitas vezes ele parta/arranque com ela desde trás, ora acelerando na passada larga, ora levando-a colada, como que brincando com o ritmo de jogo, esperando pela equipa ou puxando-a, como se ela lhe atirasse uma corda para se atar a ele a subir.
A equipa de Simeone continua a ser um “barco pirata de futebol” na imensidão dos relvados europeus. É a melhor equipa para perceber na prática a estranha teoria de como se deve fazer “campo pequeno” a defender (concentrar o bloco de onze jogadores em 30 metros) e “campo grande” a atacar (aumentando a distância entrelinhas mal recupera a bola tal a forma como os médios, ou sobretudo os extremos, se libertam dos defesas e saltam vertiginosos no apoio à dupla atacante). Parece que o comprimento do relvado nessa altura aumenta.
Gosto de equipas que estimulem o pensamento tático de análise. Aquelas mais imprevisíveis, "camaleónicas tacticamente" durante o jogo ou nos planos que levam para ele. Por isso, é perturbante sentir esta atracão pelo jogo do At. Madrid. Porque eles andam, época após época, a dizer com antecedência como vão jogar, chegam ao jogo, não mudam, jogam da mesma forma, e de todas as vezes conseguem ser eficazes e o adversário, avisado, não os consegue nem ultrapassar, nem travar.
Não é só o carácter de Simeone a puxar pelo publico no banco com os braços no ar. É mais do que isso. O que sinto quando vou a um jogo do At. Madrid é como se fosse a uma sessão de uma “igreja evangélica”.