Brasil vs Haiti: Dunga fez algumas rectificações tácticas que permitiram à equipa melhorar nesta segunda partida.
Por David Guimarães
Identificadas as lacunas de criatividade no último quarto de terreno, onde Renato Augusto e Elias não se sentem confortáveis (neste jogo mais recuados, assegurando transições), a solução passou pelo aparecimento na zona, o tal “espaço 10”, de Willian e Coutinho (mais perto de Jonas). Visto que a “extinção” dos “camisa 10” (organizadores com cabeça levantada que pautam o jogo ofensivo no corredor central) é cada vez mais uma realidade, já não se pode considerar nenhum jogador como sendo verdadeiramente proprietário desse número, mas sim como mero inquilino de um pequeno terreno, outrora ocupado de forma perene por “Pelés”.
Coutinho (ginga agressiva) foi sempre o elemento mais perigoso em todo o jogo, muito bem a tabelar com o “pistolas” benfiquista no centro, criando logo no início do encontro muitas situações para marcar. A exibição foi muito consistente, com roubos de bola na saída contrária, processos simples, circulação curta a 2/3 toques e atitude expedita, com remates à primeira oportunidade.
Os laterais muito ofensivos, inesgotável Daniel Alves e mesmo Filipe Luís (menos exuberante tecnicamente) a ter pormenores com muita qualidade, dando depois continuidade a essas acções, com bons cruzamentos a solicitar os avançados.
O Haiti entrou num 4x5x1 tolhido, linhas excessivamente baixas e rígidas (recorreu sucessivamente à falta). Nas acções atacantes não conseguiam integrar muitos elementos, apenas o avançado centro Belfort (que fez companhia aos centrais brasileiros) e algumas incursões pela esquerda de Lois.
Com a linha média muito afastada do quinteto defensivo, Coutinho arranja espaço entre a “zona de conforto” haitiana. Recebe, roda, arranca e fuzila de fora da área, estava feito o primeiro.
Os haitianos ainda tentaram repelir um pouco o sufoco que a “amarelinha” lhes impunha, subiram as zonas de pressão (passando para 4x4x2), mas destaparam o último terço. O Brasil apercebeu-se dessa exposição e numa troca de passes mais rápida, com Casemiro (sempre bem nas variações) a servir a largura de Alves, que solicita Jonas para assistir Coutinho (2-0).
Os centrais do Haiti, mal na comunicação e pouco pressionantes, nunca conseguiram conter as investidas do Brasil (principalmente os movimentos interiores dos falsos extremos). O terceiro golo é exemplo da falta de qualidade global, uma oferta do guarda-redes, que com uma reposição desastrada coloca a bola em Dani Alves, que cruza para Renato Augusto fazer um fantástico cabeceamento (marcou também o sexto).
Na segunda parte o vencedor estava já assegurado, restava definir o resultado (terminou 7-1). Dunga refrescou a equipa dando-lhe um cunho mais ofensivo. Casemiro deu lugar a Lucas Lima (médio com chegada à frente, apontou um golo). Gabigol (substituiu Jonas) juntou-se a Walace (que entrou por Elias), formando um esquema de 4x2x4.
Os haitianos foram honrados, lutaram muito e revelaram carácter mas a sua inferioridade tão grande neste jogo não permite fazer um “ponto de situação táctico” brasileiro.