Da aurora ao lusco-fusco da Libertadores

28 de Julho de 2016




O Atlético Nacional levou a Libertadores para a Colômbia pela segunda vez na sua história. 27 anos depois, após a conquista de 1989. ¡Celebran Los Verdolagas!

por Sandro Veloso

Escrever sobre a maior competição de clubes da América é para mim um exercício com alguma complexidade. Acredito que quem ama o jogo (vê-lo, senti-lo e analisá-lo) tem dificuldades em explicar uma competição que dá primazia à sua componente emocional, marginalizando a racionalização das partidas. Esta Final (a duas mãos) foi uma excepção à regra. O colorido das bancadas, com direito a foguetes no Quito e em Medellín, mostrou-me a beleza da Libertadores a que estou habituado. Tudo o resto foi diferente. O futebol está cada vez mais diferente. E venceu a mais “europeia” das equipas americanas.

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No papel, Atlético Nacional (Colômbia) e Independiente Del Valle (Equador) apresentaram o mesmo esquema táctico (4x2x2x2) ao longo de quase toda a prova (incluindo os dois derradeiros jogos). Na prática isso também sucedeu enquanto posição base, mas foi através das movimentações (sem perder o referencial do espaço) que foi encontrado o vencedor e o vencido. O agregado de 2-1 não espelha as enormes diferenças existentes entre as duas equipas na Final, onde os colombianos provaram ser claramente superiores na arte de ‘pensar’ o jogo e todos os seus momentos.

A transição e a organização defensiva do Atlético esteve longe de ser perfeita, mas quando comparada à (des)organização defensiva e à tardia transição do Independiente entendo que a chave mestra esteve aí. O 4x2x2x2 da equipa da Colômbia soube (quase sempre) formar duas linhas de 4 elementos a defender (camuflando-se num 4x4x2 clássico). Por sua vez, os Equatorianos “defendiam-se” no suicida 4x2x4 (colocando os alas ofensivos e os avançados a fazer pressão individualizada na frente, sem recuperar posições). Olhava para eles e apenas conseguia imaginar uma equipa de Corfebol (modalidade em que quem ataca não pode defender e vice-versa) com 4 atacantes e 6 defensores.

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Mirar el cielo y las estrellas

Até na vitória mais colectiva, Miguel Borja conseguiu brilhar. Foi o ‘princípio da vida’ (a aurora) da equipa de Medellín na fase a eliminar. Contratado aos também colombianos do Cortuluá (com um registo de 22 golos em 25 jogos), apenas disputou 4 partidas na Libertadores (meias e finais) e apontou 5 golos, ajudando a eliminar o São Paulo e a vencer a Final.

Do outro lado, Bryan Cabezas escureceu as possibilidades da equipa do Quito levantar o troféu. O jogador mais influente da caminhada histórica do Independiente (o clube nunca tinha chegado à Final) não foi capaz de catapultar os companheiros para outro nível e foi mesmo o lusco-fusco desta ronda. Merece, no entanto, estas linhas (ele e a equipa) pelo  brilhante e impensável percurso até à fase que todos querem jogar. É vice e é de forma totalmente merecida.

 

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À espera do avião para a Europa

Justiça seja feita ao melhor marcador da prova (9 golos ao serviço do São Paulo) e simultaneamente um dos melhores jogadores. Sim, porque quem vê Calleri não vê apenas um jogador com golo. Vê um avançado móvel, com facilidade em deslocar-se para as faixas, tabelar e fugir à marcação dos centrais. Alguns sites apresentam-no com 1.75m, outros com 1.80m, mas sempre que o vejo jogar imagino-o com 2 metros, tal é a forma como levanta a perna para ir procurar uma bola ao 3º anél do estádio. Já o vi a fazer golos de chapéu, de ‘rabona’, de cabeça (com os pés no chão, a saltar e a mergulhar), pé direito, pé esquerdo e de penálti. Já só me falta vê-lo marcar com a mão... e na Europa. Por opção, ficará sem contrato no final de Julho. Interessados há muitos, resta saber quem o irá buscar ao aeroporto.