E ao sexto jogo, a manutenção de uma ideia de jogo, um sistema e o núcleo duro dos seus intérpretes no meio-campo: a conquista da titularidade rotativa de Renato Sanches, o pêndulo de Adrien no centro e o cérebro João Mário nascendo desde a faixa.
Gales entrou quase buscando encontrar um novo estilo, mais apoiado enervando com a posse recuada. Dar o jogo a Joe Allen e os espaços na frente para as deambulações de Bale. Não era fácil King "ser" Ramsey mas o desenho gales era o mesmo de sempre. A maior diferença vista desde o espaço era um novo central gigante careca, Collins, para ser um muro na frente de Ronaldo.
Renato Sanches desde a direita parece quase sempre "fora do jogo" até a bola lhe chegar. Nesse momento é logo "outro jogador". Aquele que essencialmente entende o jogo em função da bola e não em função dos espaços.
Ter o jogo no "território das bolas divididas" tinha efeito de dar mais bolas aos médios de Gales. Nem sempre, porém, a forma de chegar mais rapidamente a baliza significa chegar mais depressa perto do golo . Bale cria facilmente essa ilusão sempre que pega na bola. O jogo e a nossa equipa sentia esse impacto imediato no jogo. Mobilizava-se logo para se proteger (juntando médios a linha defensiva).
As duas equipas amarraram-se nesse instinto de proteção toda a primeira parte sem correr riscos, sem dar espaços, controlando-os, fechando-os, quase até esconder as duas balizas debaixo da relva para ninguém as ver. E não viram, de facto, durante quarenta e cinco minutos.
A segunda parte trouxe a mesma forma de pensar e agir (reagir) ao jogo. Mas a primeira bola parada mudou, num ápice, o ritmo do jogo quando a elevação de Ronaldo num canto encontrou a bola no timing certo num cabeceamento que o fez pairar sobre todo o jogo. Os defesas galeses pareceram de repente encolher, ficar como duendes presos a relva perante o subir de Ronaldo ao limite aéreo do jogo. A bola meio perdida na área galesa logo depois encontrada por Nani quando já ia a fugir sem destino marcou ainda mais a diferença.
Em poucos minutos, duas jogadas destruíram todo o "jogo táctico" que parecia imperturbável. Dois golos saídos de um local antes indecifrável. Sem avisar antes que iam aparecer. Os galeses não sentiram antes a ameaça e quando se confrontaram com essa nova realidade não perceberam o que tinham feito de tão errado para de repente (do minuto 50 ao 53) estarem a perder por 2-0. Não tinham feito, em rigor, nada que o tivesse provocado. Tinha acontecido Ronaldo, pura e simplesmente. E depois Nani, como que saído debaixo de um alçapão na relva em plena área.
O jogo como que se antecipou as duas equipas (para o bem e para o mal). Não existem muitas explicações tácticas para tudo isto. Apenas explicar como aconteceram as jogadas. Enquanto Gales tentava renascer metendo avançados, Portugal conservava o jogo com médios.
Nesta altura, perto do fim do texto é tempo de voltar a sua frase inicial e redescobrir a base para esta vitória (e conquista da presença na Final) na manutenção de uma ideia de jogo e na criação de rotinas de posicionamento e seus intérpretes. Encontramos a combinação da melhor "password" do meio-campo. Sem dilemas de ter mais posse de bola. Esta é, de facto, "outra ideia de Portugal". Em três minutos apenas: Ganhar pela realidade, não pelo sonho.