Em todas as vertentes da vida, é muito mais fácil ofender do que analisar com critério o que quer que seja. Desde a minha infância que sou apaixonada por televisão, por rádio e por todos os meios que me possibilitam estar perto do mundo da caixinha mágica. Com o passar dos anos, vejo essa magia a desvanecer... não pela falta de qualidade, mas sim pela tão conhecida expressão: “não se olha a meios para atingir os fins”. O que quero com isto dizer? Pois bem, vivemos numa era de total guerra de audiências, quer na rádio, quer na televisão. Esta guerra não pertence unicamente à caixinha mágica e a quem nela brilha... nós próprios telespectadores/ouvintes fazemos parte dela. Uma guerra onde o mais importante é o que vende, haja conteúdo ou não. A rádio perdeu muito com a disseminação da televisão e consequentemente o seu poder. O que antes era simplesmente narrado, hoje pode ser visto com os próprios olhos...olhos esses que só vêm o que querem, que desvalorizam cada vez mais o conteúdo para instigar sobretudo o ódio, o preconceito, o insulto gratuito, no fundo, a falta de respeito que é cada vez mais notória e constante no nosso dia-a-dia.
Como podemos nós ter cultura desportiva quando todos os detalhes são postos de lado? No futebol, todos têm ou sentem a necessidade de ter uma opinião, percebam muito, pouco ou nada. Quantos de nós, seja em casa, no trabalho ou no café assistimos a insultos gratuitos a um clube rival? Se pensarmos bem, são mais as situações de ataque do que propriamente de “amor” ao seu próprio clube. Nos últimos anos, os estádios deixaram de ser seguros para levar a família. Quantas vezes já ouviram de amigos ou familiares, “não vás...são jogos de risco...pode haver zaragata”. O que é isto? Desde sempre que para mim futebol, é sinonimo de família, juntos em frente à TV, juntos numa ida ao estádio, juntos numa viagem a ouvir o relato daquilo que aparenta ser um brilhante jogo de futebol, nem as unhas aguentavam tamanha emoção...caramba, toda a liberdade que nos assiste é condicionada de alguma forma. Os programas de Tv dedicados exclusivamente ao mundo do futebol têm corroborado toda esta agressão que temos vindo a viver...
Quantos de nós já dissemos: “não vejo mais aqueles programas?” no entanto todas as semanas damos lá um saltinho para ver o que dizem sobre o nosso clube, sobre aquele lance que não ficou bem claro, sobre aquela expulsão que nos custou a engolir? Quantos de nós já fomos assistir a um jogo dos juniores ou dos juvenis onde os próprios pais insultam crianças com 10 ou 11 anos? Quantos de nós já ouvimos esses mesmos pais a ameaçar treinadores, árbitros, elementos da equipa adversária, etc? A isto nunca se poderá chamar: cultura futebolística, a isto pode-se e poder-se-á chamar clubite aguda sempre que a ofensa, a maldade e o preconceito, surjam antes da qualidade, do bom futebol, da técnica, da capacidade de leitura, da entrega e sobretudo da dedicação e reconhecimento de quem está dentro das quatro linhas.
O sonho do futebol é para quem o vive e deixa ser vivido, nunca para alimentar a repulsa. Se queremos ter cultura desportiva, temos de colmatar este flagelo tão enraizado na nossa sociedade, sensibilizar as pessoas para a importância do exercício físico, seja ele na dança, na natação, na canoagem, no futebol... O desporto e a atividade física devem ser um método de boas condutas onde primeiramente se formam grandes Homens e Mulheres e só depois grandes atletas. Foquemo-nos no que realmente importa e faremos parte da mudança.
Isa Maio - Cronista Recepção Orientada