França: Não é o sistema, é o local do bloco  

10 de Julho de 2016




A França já não se discute taticamente só pelos sistemas: 4x3x3 (com triângulo musculado no meio-campo em “1x2” com Kanté pivot e Matuidi-Pogba interiores ou 4x2x3x1 com duplo-pivot Matuidi-Pogba e Sissoko-Payet descaídos desde as alas com Griezmann no meio). Estas são apenas estruturas no papel porque depois, em campo, a “segunda versão táctica” que parecia soltar mais ofensivamente a equipa (como sucedeu contra a Islândia) pode ter a expressão oposta se baixar o bloco, fazer “duas linhas de 4” a defender com os alas recuadas (4x4x2 sem bola) e funcionar essencialmente como estratégia de reforço da organização defensiva (como sucedeu contra a Alemanha).

Em tese, contra Portugal, a estratégia, pensando na manutenção da segunda variante, deve ficar entre estes dois pensamentos estratégicos. Subir mais o bloco e criar uma zona de pressão central mas sem perder as referências de cobertura defensiva imediatamente pós-perda da bola, não dando espaço à profundidade atacante portuguesa.

Neste upgrade de cultura táctica de sistemas, a França tornou-se mais forte a ler os jogos de diferentes formas. Ganhou uma identidade bífida que, no jogo, se pode transformar. Sendo perigosa (e eficaz) nas duas expressões, sobretudo porque sabe como defender fechando linhas de passe e sabe como atacar lendo rapidamente os espaços vazios. Na face mais imprevisível, são as diagonais de Payet e as arrancadas desde trás de Griezmann, o segundo-avançado goleador que chega sempre primeiro que todos os outros

O plano-Sissoko

sissoko 

O jogador, aparentemente discreto no jogo, mas tacticamente decisivo no novo plano nascido nos dois últimos jogos, mora sobre a faixa direita: Sissoko.

Tanto pode ser uma “asa ofensiva”, a dar profundidade pelo flanco, quase na pele de extremo, como pode ser um “cadeado defensivo”, endurecendo o seu jogo de marcações a fechar a faixa ou flectindo para “associar-se” nas coberturas interiores.

Em todos os momentos é um jogador musculado, forte e com o chamado espírito de missão táctica, que nesta França reinventada por Deschamps nos dois últimos jogos, se nota sobretudo na forma como defende. Sabe depois desdobrar-se em posse para o momento ofensivo.

Contra Portugal, irá, dentro do plano global da equipa, subir alguns metros no terreno (na faixa) em relação ao jogo com a Alemanha, mas sem nunca perder o “timing” de transição defensiva. É a chamada “fórmula-Sissoko”, um bom jogador atlético, longe de ser uma estrela, que roubou o protagonismo na faixa a talentos puros mas inconstantes como Martial ou Coman.