Ganhar ou perder é diferente?

09 de Setembro de 2016




Existe a ideia que quando se tem um (bom) ponta-de-lança joga-se em 4x3x3. Existe a ideia de quando não existe esse ponta-de-lança a solução é jogar-se em 4x4x2. Na primeira ideia, imagina-se um nº9 clássico. Na segunda, sem esse homem, imagina-se uma dupla atacante móvel.

As coisas não são assim tacticamente tão lineares. Ao ponto de mesmo tendo esse ponta-de-lança (de qualidade clara ou subitamente assim visto) poder jogar-se em 4x4x2. Ou seja, colocar esse homem mais nº9 de referência e ter outro avançado que saiba mover-se melhor e com vocação rematadora em seu torno.

Há muito que falo nessa hipótese para Portugal (antes do titulo europeu quando ninguém queria ver Eder à frente). Continuo a achar que é uma variante interessante a testar/usar. O jogo na Suíça fez-me reforçar essa ideia.

Num jogo em que (sem Ronaldo e com Eder tornado herói) voltamos ao 4x3x3 com ponta-de-lança clássico, pensei muitas vezes na solução de jogar em 4x4x2 com... ponta-de-lança clássico também, mais outro avançado perto dele. Este podia ser Nani, ou até Bernardo Silva (desterrado na faixa) como nº10 que entra bem desde trás quase segundo-avançado (e que se quiser até pode ser um falso 9).    

Portugal entrou num novo ciclo da sua existência após o titulo europeu conquistado através da simultânea construção dum trabalho táctico que se baseou num lado estratégico (jogo a jogo) muito forte e encontrou subitamente (após várias hesitações) uma fórmula certa para o meio-campo (características e desempenho interligado dos seus interpretes).

Não foi um titulo que resultasse da criação dum estilo de jogo. Não seria uma forma de jogar que nos deixasse satisfeitos se no fim tivéssemos perdido. Já perdemos em Euros e Mundiais e ficamos com mais referências para o futuro. Esta teve o condão de ganhar e perante isso nem vale a pena argumentar mais nada. Mas o treinador sabe, dentro de si, que vale a pena. E muito. Por isso perguntava aqui há dias: como vai querer Fernando Santos que Portugal verdadeiramente jogue daqui para a frente? Mais do que fazer mais faltas, fazer mais passes de qualidade.

Na Suíça, a perder 2-0, surgiu André Silva a ponta-de-lança e Nani perto dele, entrando um cérebro para pensar desde a esquerda, João Mário. Desaparecia Eder e assim surgia a dupla de ataque móvel com um nº9 dentro dela: André Silva.

Os sistemas não têm, no entanto vida própria. Sem rotinas de movimentos nesta forma de jogar, mudou-se o lugar do cérebro e entrou um rebelde que pode resolver sozinho: João Mário no meio e Quaresma desde a faixa ou onde quiser. Não mudou nada. Porque continuaram a faltar as bases duma ideia não movida por dúvidas.

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A Seleção sub-21: A lógica do jogo

A seleção sub-21 (mais uma construção em curso de Rui Jorge) conseguiu o apuramento para mais uma fase final da categoria. Não fez grandes jogos contra Israel e Grécia. O onze pareceu até preso de movimentos e custa-me entender a hesitação no lugar de nº9 (já o sentira nos jogos Olímpicos) em relação a Gonçalo Paciência, mais latente ainda visto que a opção alternativa foi Jota como avançado-centro, um lugar que lhe tolhe os movimentos. Vejo Jota, a este nível, como segundo-avançado ou numa dinâmica a vir da faixa. Mas, seja qual for a opção, a equipa não se desorganiza porque tem a chave das boas equipas: bons médios. Rúben Neves a circular e Bruno Fernandes a organizar, dando mais liberdade até a André Horta, que está num processo de amadurecimento táctico avançado como “8” no Benfica.

O importante, porém, é que esta equipa tem uma ideia clara do que quer fazer no jogo. Mesmo quando não a consegue colocar em prática. Os jogadores crescem assim dentro de um conceito claro de ideologia de jogo e não através da descoberta em campo dos melhores sítios para se mover. Colectivo e um-para-um.