Liga das Nações, o Apóstolo da Conquista

18 de Novembro de 2020




Quando a 9 de junho de 2019 a Seleção portuguesa venceu a sua congénere dos Países Baixos e conquistou a primeira edição da Liga das Nações o país festejou. Foi a cereja no topo do bolo após uma fase final em Portugal. Nesse momento de alegria foi inevitável recordar a epopeia por terras gaulesas em 2016, eternizada na nossa memória coletiva e guardada por cada um de nós de uma forma muito particular e especial, bem como o nostálgico Europeu de 2004 onde o sonho quase se materializou numa Taça.

Se da primeira vez, por ser novidade, se estranhou esta nova competição criada pela UEFA, a segunda edição está a confirmar que se tratou de uma boa ideia.

Os jogos das Seleções Nacionais são diferentes. Vivem-se numa atmosfera distinta. Não existem divisionismos nem clubismos. Respira-se uma genuína união. Todos torcemos pelo sucesso da nossa. As fases finais das grandes competições são aguardadas com uma enorme expectativa e nesses momentos mágicos o futebol traja-se de gala, devolve-nos memórias de outros tempos, faz-nos sonhar e ficamos completamente agarrados ao jogo durante 90’, 120’ ou, com o coração aos pulos, até ao último penalti do desempate. Porém, o caminho até lá chegar, às fases finais, é moroso e às vezes enfadonho. As pausas dos campeonatos nacionais para os compromissos internacionais significam muitas vezes, para o adepto, uma paragem abrupta da emotividade, na medida em que os jogos de qualificação, as mais das vezes, não são assim tão competitivos. Não dão pica. O cenário piorava aquando da realização de jogos particulares, também ditos amigáveis, um fastio de jogo que servia sobretudo para engordar o mealheiro das Federações por via do cachet. A forte possibilidade de aí assistirmos ao desfile de algumas caras novas ou não tão habituais era apenas um pequenino brinde.

A Liga das Nações, se não terminou, diminuiu drasticamente o número de jogos particulares. Simultaneamente elevou – e muito – o nível de competitividade para as diversas Seleções Nacionais, agrupadas por uma bitola semelhante que se traduz num potencial equilíbrio. Tem-se verificado uma democratização do jogo. Os tradicionais “bombos da festa”, Seleções notoriamente frágeis e com uma base de recrutamento diminuta – escolha o leitor alguns exemplos –, são agora protagonistas pela positiva, jogando entre si para aferir quais conseguem ascender a patamares superiores. Do mesmo modo, as Seleções mais bem cotadas defrontam-se dando origem a muitos jogos de cartaz. Já não temos que esperar pela fase final de um Europeu ou de um Mundial para assistirmos àqueles grandes jogos que nos cativam. Aliciante e fundamental é o facto de existir sempre algo em jogo, com subidas e descidas de divisão ou o acesso à fase final em disputa.

A mais jovem competição de Seleções da UEFA traz assim os ingredientes para manter o adepto apaixonado ligado à corrente e cremos que o Futebol, na sua dimensão mais abrangente, também ganha outro brilho. Qual Apóstolo, a Liga das Nações tem levado o doce sabor da Conquista a outras latitudes num abraço acolhedor de integração que é sempre de louvar.

 

Adolfo Serrão - Cronista Recepção Orientada