Mas que tipo de estilo e futebol é este?

24 de Novembro de 2022




 

 

Acredito que após ver uma primeira parte a ouvir-se o “vrrrrrrrrr” que parece vir debaixo da relva sempre que os alemãs jogam (dominando, sempre com a bola e marcando) todos tivessem ficado de olhos esbugalhados perante a reação do Japão na segunda-parte dando volta ao jogo/resultado, perguntando: mas que tipo de futebol é este?

É o futebol japonês “made in-Moryasu” que tanto elogiei antes, com bloco subido, posse de bola trabalhada/apoiada no centro e esticada em velocidade nas faixas. Bem vindos! Tinha muita expectativa para os ver neste Mundial pelo que o que me admirou mais foi aquela primeira-parte sem conseguirem jogar. A reação na segunda-parte foi tão fantástica que achei engraçado a dificuldade de todos que comentavam o jogo em dizer em que sistema jogavam.

 

 

O Japão tinha feito uma substituição de fazer coçar a cabeça ao analista mais simplista porque, a perder, tirou um extremo (Kubo) e metera um terceiro central (Tomiyasu, decisivo até a avançar). Deixava o 4x2x3x1 e passava a jogar num 3x4x3 com projeção ofensiva dos alas que, no decorrer do jogo, foi multiplicando-se até acabar com quatro avançados/extremos nas faixas (Doan e Itto a fazer o lado direito, Mitoma e Minamino a fazer a esquerda).

Mantendo sempre Endo a trinco imperturbável (corta-passa e já está!) mais Kamada segundo-avançado a pegar atrás, trocou o nº9 e quando Takuma Asano entrou eléctrico, alternando entre centro e meia-direita, os defesas alemães deixaram definitivamente de perceber o que lhes estava pela frente.

Era complicado pela natureza tática destes movimentos (a certo ponto desenhava-se em 3x3x3x1) e era complicado pela quantidade de japoneses avançados com cabelo amarelo a confundir-lhes ainda mais quem era quem.

A Alemanha apostara em voltar a um sistema híbrido de três centrais para colocar Raum na ala esquerda e Gnabry a fazer toda a faixa direita. Parecia ter o jogo ganho com a bola só dela mas desequilibrou-se automaticamente quando perdeu o controlo do sistema perante as alucinantes mudanças japonesas e não soube reagir ao jogo (que então só o Japão oxigenado sabia jogar).

 

O primeiro nome que aponto como revelação deste Mundial: Hassan Al-Tabakti, defesa-central da Arábia Saudita. O grande destaque ma vitória sobre a Argentina foi, claro, para o golaço de Al-Dawsari, mas foi neste central que toda a defesa saudita se baseou para aguentar, mesmo quando fechada mais atrás (fez cortes incríveis) ou de início a coordenar a subida para fazer fora-de-jogo. Com 23 anos, intransponível no um-para-um (fez um desarme impecável “sem osso” a Messi), sentido posicional e poder de marcação. Joga no Al-Shabab, onde lhe chamam o “central de ferro”. Expectativa para o ver no próximo jogo!

O golo é mais real que o nº9

Quando falam em jogar como “falso 9” existe uma diferença decisiva para quem faz a missão: uma coisa é esse jogador saber que só depende dele o desaparecer (recuar/abrir) e aparecer nesse espaço do velho ponta-de-lança, outra coisa é ele viver dependente dos movimentos de outro jogador (em geral, o segundo-avançado) que em trocas posicionais também pode aparecer nesse “espaço 9”.

Penso que esta é uma boa forma para perceber a eficácia de Asensio no centro do ataque da Espanha, vindo buscar jogo atrás ao meio sabendo que quando achasse oportuno podia aparecer no espaço vazio do “9 “que seria ele de surpresa, em contraste com as trocas posicionais da Alemanha nesse mesmo espaço central ente Havertz e Muller, este vindo de trás ou em diagonal curta, que nunca deu a nenhum deles (sobretudo a Havertz) o conforto e a convicção para decidir quando devia surgir nesse espaço “9” (assim nunca invadido com a interação taticamente certa).

E, assim, de repente, na primeira versão, surgiu uma equipa a tocar a bola alegremente pelo campo todo. A Espanha foi ao baú do estilo. Busqets, Pedri, Gavi, mais Del Olmo alevantar a bola uns centímetros, Torres para correr mais um “poquito” e Morata a marcar o ultimo golo. Para não dizerem que não têm um nº9 também.