O jogo começa com um lance de antologia de Messi.
A Argentina elabora um canto curto, com o astro do Barça na entrada da área (inexplicavelmente sem marcação) a solicitar o movimento de Lavezzi com um passe picado (a bola parecia anestesiada, levitando relaxadamente). O guarda-redes Guzan fica hipnotizado com a "redondinha que pairava no ar”. Quando despertou, já tinha pousado dentro da baliza depois do cabeceamento de Lavezzi para o primeiro golo… também não valia a pena sair da baliza para estragar tamanha obra-prima.
Por David Guimarães
A Argentina entrou estruturada num 3x4x3 em organização ofensiva, com os centrais Otamendi e Funes Mori muito abertos, permitindo a introdução de Maschereno no “seu meio”, baixando para iniciar a saída de bola.
Os laterais Rojo e Mercado (que fecham a defender) são mais médios ala (tal é a sua projecção atacante). Jogam de perfil com Fernández (agressivo no espaço e sobre a bola para recuperação) e Banega (que, neste contexto, joga numa posição mais recuada do que o habitual, pauta a ligação entre sectores e varia o centro de jogo). No fundo, abandona a sua zona preferencial para ceder protagonismo total ao pequeno Leo.
Messi tem actuado preferencialmente no corredor central, não pisando muito as faixas para as tradicionais diagonais interiores em explosão. Poderá designar-se como um segundo-avançado entrelinhas, que procura incessantemente a “zona morta” para definir jogadas (último passe, remate). Executa numa velocidade estonteante (driblando ou servindo), sendo constantemente procurado pelos colegas (dá/devolvem).
Com o campo de visão alargado pela sua colocação ao centro, está incumbido de combinações curtas com a dupla de avançados Lavezzi e Higuaín (que, também pouco abertos, tornam o jogo interior muito forte).
O segundo golo é outro monumento. Messi (sempre a ver primeiro o posicionamento dos oponentes antes de se colocar para receber) passa no meio de dois com uma finta curta soberba e é parado em falta. No livre directo coloca a bola ao ângulo esquerdo com um “efeito lateral em banana” (bola a fugir para o lado e caindo numa descida a pique). O esférico “beijou” a barra antes de “acariciar” as redes. Se o “jogo” era impossível de discutir, faltava apenas saber qual o resultado final que favoreceria a selecção das Pampas (4-0).
Os norte-americanos nunca foram capazes de contrariar a superioridade técnico/táctica argentina, que se manifestou em todos os momentos (inclusivamente na disponibilidade física e batalha aérea). A pressão alta dos argentinos, sempre com três elementos coordenados alternando zona/homem, não possibilitaram qualquer veleidade à selecção da casa.
No entanto, é justo ressalvar a boa prestação dos EUA ao longo da prova. Klinsmann (4x4x2 clássico ou 4x2x3x1) apresentou uma equipa compacta, equilibrada e veloz, que procurava rapidamente a profundidade. O corredor direito foi uma importante arma, com as subidas do sempre disponível Yedlin em colaboração com o vertical Zuzi. O meio campo funcionava bem, principalmente através da ligação Bedoya (na reacção à perda) e Bradley (a transportar jogo para a frente, sendo o farol para a construção). Clint Dempsey é ainda crucial na frente de ataque e aos 33 anos continua a apontar tentos com regularidade.
A Argentina está na final com tranquilidade. Tem predilecção pelo jogo curto, com soluções de passe próximas dadas por mais do que um jogador. Também alterna com facilidade uma ligação longa com os avançados (ganham duelos directos e segundas bolas). Bem preparada em todos os momentos de jogo, conta com um “messias” em forma de pulga, o parasita de taças, para arrecadar a “Centenário”.