O futebol (e os seus diferentes níveis de competição) pode falar diferentes linguagem que turvam verdades antes tidas como absolutas mas são, no fundo, apenas relativas. Uma relatividade que do nosso campeonato para a Champions traduz, quase sempre, a realidade do nosso... “pequeno mundo”. Benfica, FC Porto e Sporting viajaram esta semana até essa outra dimensão.
O final do jogo da Luz causou alucinações. De repente, o Benfica atacava com três espécies de nº9 (Seferovic, Jiménez , Gabriel) mas não tinha, apesar dessa explosão de avançados-centro, ninguém verdadeiramente dentro da área. Nostalgia de Mitroglou, “animal de área” dos golos mesmo na confusão dos ressaltos quando até já se atacava com menos cabeça. Tudo, começa, porém, mais atrás. Como o jogo.
O dito problema defensivo sobre aqui já escrevi está sobretudo relacionado com a menor velocidade e precisão da transição defensiva. Perde a bola a atacar e o tempo que demora a reorganizar-se defensivamente deixa a equipa desposicionada nesse momento. O valor individual das peças do sector é outra questão. Por isso, um cadeado como Fejsa é tão importante neste jogar (entenda-se ordenação atrás da linha da bola) encarnado.
Não é um jogador por natureza de espaços curtos mas sabe estar neles sem mostrar qualquer incómodo. Doumbia está a deixar a ideia que se tinha de ser um potencial segundo-avançado (no 4x4x2) para ser uma real opção para ponta-de-lança (primeiro avançado em 4x3x3). É quase como, subitamente, estivéssemos a ver este jogador “virado do avesso”. Em vez da personificação do contra-ataque (a correr atrás da bola), a presença oportuna entre os defesas adversários. E resulta. Até marca golos de cabeça.
Isto só funciona, porém, porque atrás dele existe um meio-campo de verdade. Médios puros na especialização táctica de ocupação (jogo posicional) e invasão /dinâmica) dos espaços. William, Battaglia e, claro, Bruno Fernandes (mais o trabalho de recuperação, sem bola, de Acuña). Por isto, este Sporting é melhor e na Grécia soube ganhar o jogo na altura que o Olympiakos achou que podia atacar sem pensar ao que lhe aconteceria mal perdia a bola.
É irónico que esta maior consciência táctica da importância do equilíbrio do meio-campo nesta dimensão venha do treinador que foi, nos últimos anos, mais atacado por não saber fazer isso: Jesus. Aconteceu ao mesmo tempo que Rui Vitória e Sérgio Conceição se despenhavam em casa perante a “teoria da relatividade táctica do 4x4x2" com apenas dois médios no "transfer" da dimensão nacional para a internacional. O mundo, afinal, é grande.
Os limites
Apanhado no centro do desequilíbrio táctico colectivo, Filipe Augusto é um jogador assustado a quem ao mesmo tempo lhe pedem para resolver o problema de toda a equipa. É perturbador.
O jogador tem as suas qualidades, como um nº8 que sabe tocar tecnicamente e “associar-se” num jogo curto, mas não é um nº6 para aguentar o peso táctico de uma equipa em 4x4x2 com apenas dois médios puros numa dimensão de Champions. Por isso, ao mesmo tempo era ele próprio que pedia para ser salvo dessa avaliação que iria, inevitavelmente, condenar a análise ao seu verdadeiro valor (que é para “outras coisas tácticas”)
Para esta ideia de jogo, só Samaris (e o multifunções André Almeida) podem fazer a “comissão de serviço táctica de nº6” mas nenhum deles será uma fotocópia de Fejsa.
É onde pode entrar o debate do 4x3x3 como chave do problema sobretudo vendo que Jonas tem de ser gerido fisicamente de forma cirúrgica esta época. Forçá-lo em campo (para ser segundo-avançado e terceiro-médio) quando já passou esses seus limites, leva, inevitavelmente a que os... limites ganhem. A ele e à equipa toda.