O futebol é um jogo colectivo. Contudo, diz-se que uma equipa pode ser um jogador e mais dez. Mais do que qualquer outra, a selecção do País de Gales pode ser essa equipa no Euro 2016. Com 7 dos 11 golos (64%) apontados pelos galeses na Fase de Qualificação, Gareth Bale transportou um país inteiro para uma competição que nem a geração do lendário ponta-de-lança do Liverpool, Ian Rush, conseguiu atingir.
Por Sandro Veloso
A presença no Mundial de 1958 pelas mãos do técnico Jimmy Murphy era, até ao dia de hoje, a única participação do País de Gales num grande evento internacional de selecções.
Esta equipa que estará em França, comandada por Chris Coleman, viverá de Bale em muitos períodos das partidas: da sua capacidade em criar desiquilibrios com a mobilidade que apresenta na frente de ataque, da sua mudança súbita de velocidade e essencialmente do seu instinto goleador. Mas viverá também do que for feito pelos “mais dez” que dão forma ao 3-5-2 galês que sofreu apenas 4 golos nas 10 partidas realizadas no apuramento.
Na baliza, Hennessey será o titular absoluto. O guarda-redes do Crystal Palace foi um esteio na caminhada até França e destacou-se pela sua eficácia entre os postes e pelo forte pontapé nas reposições de bola, sempre à procura de Bale e Robson-Kanu, os avançados fortes no jogo de cabeça da formação de Gales. Esta será mesmo a única forma de vermos uma equipa que gosta de sair a jogar de forma apoiada pelos seus centrais, praticar a ideologia britânica do ‘kick and rush’.
É precisamente no sector mais recuado e nas alas do meio campo que surgem as únicas dúvidas em relação ao onze base. Ashey Williams, o capitão, é indiscutível no eixo da defesa, assim como Neil Taylor, seu companheiro no Swansea, o é na ala esquerda. Ben Davies, do Tottenham, tem vaga garantida na posição de central à esquerda, ele que até é de origem um lateral. É à direita, no entanto, que Chris Coleman mostra ainda indefinição, dando o mesmo tempo de jogo a Richards e Chester, o que obriga a equacionar em que posição jogará outro dos indiscutíveis: Chris Gunter. Com Gunter no centro da defesa, Richards irá jogar como ala direito, já se Gunter for escolhido como ala direito, aí o corredor central será preenchido por Chester. Uma indefinição que só será esclarecida após o início do Euro 2016.
Ledley, Allen e Ramsey completam a equipa na zona nevrálgica do meio campo. O primeiro, ocupa a posição 6 mas pensa e executa como um 8. Com muitas dificuldades em posicionar-se defensivamente, é em zonas mais adiantadas e com a bola no pé que ajuda a equipa a agarrar os primeiros metros do campo, fazendo a ligação com o verdadeiro 8 desta estrutura, Joe Allen, o jogador com mais critério no passe e que liberta o ‘gunner’ Ramsey para ser o motor ofensivo da sala de máquinas galesa.
Onze provável: Hennessey; Gunter, Williams, Davies; Richards, Ledley, Taylor, Allen, Ramsey; Bale e Robson-Kanu.
O médio Andy King, do Leicester, assim como os pontas-de-lança fixos Simon Church e Vokes, foram os suplentes utilizados num maior número de jogos, mas ainda assim a uma distância muito grande dos titulares, numa selecção que mostra poder vir a ter dificuldades acrescidas caso se depare com lesões e suspensões ao longo da prova.
A selecção do País de Gales não deve ter complexos em subir para as costas de Gareth Bale e esperar que o astro do Real Madrid catapulte a equipa para bem alto
O modelo de jogo, as virtudes e os defeitos
Nos seus principios de jogo, podemos esperar um conjunto sólido atrás, a defender em 5-2-2-1, com centrais que gostam de jogar na antecipação e que encarregam sempre um deles, por norma Ashley Williams, a marcar individualmente a referência ofensiva da equipa contrária.
Fortes nas bolas paradas e a defender com dez jogadores atrás da linha da bola, deixando apenas Robson-Kanu mais adiantado - ele que não é um goleador, mas sim um especialista a jogar de costas para a baliza e esperar pelo apoio dos colegas - a selecção do País de Gales inicia a zona de pressão apenas no seu meio campo defensivo, com uma vigilância bastante próxima do portador da bola. Allen junta a Ledley, com Ramsey e Bale à sua frente. É no corredor central do meio campo que a formação apresenta mais lacunas e espaços mal preenchidos a defender, sendo por oposição uma equipa bastante segura a proteger o interior da sua grande área.
Ofensivamente, a selecção tomba à direita aproveitando o maior fulgor ofensivo de Richards ou Gunter face a Taylor, destacando-se na rapidez no momento da transição ofensiva e atacando sempre com poucos elementos, dando preferência ao contra-ataque onde Bale ganha o seu momento mais decisivo neste modelo.