Um último terço nas asas de Santos

24 de Novembro de 2020




Todos lhe reconhecem valor pelo trajeto percorrido no futebol. Porém, quando Nuno Santos chegou ao Sporting Clube de Portugal no verão de 2020 sentia-se uma dúvida latente, reflexo das múltiplas oscilações leoninas ao longo dos anos, geradoras de uma avisada desconfiança a priori: será que conseguirá singrar em Alvalade?

Vinha de uma grande época ao serviço do Rio Ave, a melhor de sempre dos vilacondenses no principal escalão do futebol português. Nos Arcos o extremo foi um dos protagonistas de uma bela temporada aos comandos do timoneiro Carlos Carvalhal. Um cartão-de-visita apelativo forjado num dos emblemas mais consistentes e que mais tem evoluído em Portugal.

Nesta versão do Sporting 2020/2021 arquitetada por Rúben Amorim não existem vedetas. A equipa vai-se exibindo alegre, solta, com uma confiança crescente e uma dose de irreverência q.b., procurando demonstrar a sua valia a cada jogo. Nuno Santos veio somar. Muito do sucesso deste Sporting tem passado por si. Alinha com um ânimo e umas ganas tão evidentes que cativam. A verticalidade que oferece casa muito bem com a envolvência e a dinâmica de uma equipa jovem, pincelada com experiência. Desequilibrador, tem sido decisivo com a sua visão de jogo e qualidades no passe e no cruzamento que lhe conferem um importante papel de assistente. Outras vezes, ele mesmo, veloz e inteligente nas suas movimentações, encontra ou cria espaços onde aparece isolado para finalizar. Jogador de remate fácil, não pede licença para visar a baliza. Tem sido tremendamente influente na manobra ofensiva dos leões.

Nem só de números, contudo, vive o jogo. Aos 25 anos, Nuno Santos é um exemplo de resiliência. Prova que no futebol, apesar de tudo, a meritocracia ainda é um elevador viável. Superou um calvário de lesões que travaram a sua progressão. Nunca desistiu de lutar para se reerguer e voltar aos relvados. Todo o seu esforço está a ser recompensado.

É um ilustre representante desse futebol com um sorriso na cara e merece o nosso aplauso. Eleva-se, triunfante, perante um jogo tão volátil em que o resultado trespassa ânimos. Desfrutar este momento, em que se evidencia num surpreendente coletivo, é um prémio justo e uma motivação acrescida para o que está por jogar.

 

Adolfo Serrão - Cronista Recepção Orientada

 

Miguel Pereira/Global Imagens