O Aston Villa tem sido uma das boas sensações da edição 2020/2021 da Premier League. Depois de várias épocas com o credo na boca, inclusive com passagens pelo Championship, tem conseguido escalar posições tendo em vista lugares tranquilos na tabela e, quem sabe, com vista para a Europa.
Há um qualquer ingrediente distinto e fascinante que faz do futebol inglês uma receita deveras especial. A envolvência dos adeptos que apoiam sem reservas o clube da sua terra, independentemente da sua dimensão ou do escalão em que jogue, é transportada para o relvado. O efeito é uma mentalidade tão impactante que toca profundamente os jogadores. Passam a representar algo mais do que uma equipa, um mero trampolim ou uma passagem nas suas carreiras. Há um chamamento que se sente nos interstícios, um forte sentido comunitário que apela à transcendência.
O percurso que os Villans têm vindo a traçar tem no seu capitão Jack Grealish o protagonista ideal. Juntos viveram alegrias e tristezas, dualidades da vida e do futebol.
O jovem de 25 anos é a alma daquele conjunto. Nascido e criado em Birmingham, tem aquelas cores, Claret and Blue, entrelaçadas no seu coração desde o berço. A paixão desenvolveu-se numa devoção e hoje tem a sorte, o prazer e o privilégio de a abraçar profissionalmente. Tem feito toda a carreira ao serviço do Aston Villa, onde está desde os 6 anos de idade. Pelo meio conta apenas uma experiência longe do Villa Park, em 2013/2014, quando foi emprestado para evoluir no Notts County.
Pleno de disponibilidade e entrega, com recortes de fina técnica, Grealish emula o leão que enverga orgulhosamente ao peito. A sua camisola 10 assenta-lhe bem, tal é o modo como assume a batuta destemido e engendra jogadas, delineadas com requinte. Pensa, executa e define com uma qualidade que o diferencia. Seja a médio ofensivo ou a extremo, o internacional inglês tem magia nos pés e é a grande figura da equipa.
Jack Grealish e Aston Villa estão umbilicalmente relacionados. Sentimento. Atitude. Pertença. Não são palavras vãs.
No universo futebolístico onde tudo soa a leviano, superficial, momentâneo, é bom podermos apreciar, recostados, este trecho quase anacrónico, nostálgico, de uma história de superação pelo talento e amor à camisola.
Adolfo Serrão